Éthos anthrópos daímon

O termo ética, de origem grega, deriva do vocábulo éthos (com eta longo) e designa o acto de morar, habitar, estando primordialmente referido à noção de topos (lugar), de ser um ocupante de, de pertencer a. Heraclito (540 a.C.- 470 a.C.)  utiliza o vocábulo éthos – morada – para situar a condição ontológica do homem como aquela que necessita de um lugar. No entanto, o termo lugar não se define por ser um indeterminado, pois se assim fosse seria indiferente para o corpo que nele estivesse. Ao contrário, o lugar afecta o ocupante, podendo ser definido como “um modo de estar em”.

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Heraclito utiliza o termo éthos – quando diz: Éthos anthrópos daímon – “A morada do homem, o divino”. Ao considerar o “abrigo” do homem “divino”, Heraclito caracteriza a condição do homem numa relação permanente com o inapreensível. Essa ausência de controlo do homem sobre si fica também evidenciada quando no fragmento 78 Heraclito estabelece a diferença entre a morada do homem e a do divino, dizendo: “A morada do homem não tem controlo, a divina tem”.

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O existir do homem é marcado pela vicissitude de relacionar-se com uma ordem enigmática que o ultrapassa, que o impede também de possuir de per si um controlo, ficando impossibilitado de auto-referenciar-se como ente no mundo.

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Fonte:

Ética e Existência: A Busca da Humanidade

Estrella D’Alva Bohadana,
(Doutora em Comunicação

 

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